quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Água de esgoto tratada pode ser usada para irrigação de canteiros

Pesquisa da UnB revela que água de estações de tratamento de esgoto pode ser usada para irrigar áreas verdes da cidade
Francisco Brasileiro - Da Secretaria de Comunicação da UnB

Atualmente, o governo do Distrito Federal gasta 700 mil litros de água por dia para irrigação de canteiros. Água que poderia, mediante tratamento, ser usada para o consumo humano. Pesquisadores da Universidade de Brasília provaram que a água proveniente das estações de tratamento de esgoto pode ser usada para irrigar esses canteiros, sem prejuízo para o meio ambiente.
O estudo partiu de três amostras de água de esgoto em diferentes graus de tratamento e verificou o efeito delas na multiplicação de microorganismos do solo. “Utilizamos quatro amostras, uma para cada etapa do tratamento de esgoto aplicado em Brasília e outra com água potável”, explica o professor Alexandre Prado, do Instituto de Química. As amostras foram cedidas pela Estação de Tratamento de Esgoto Norte, da Caesb.

Os pesquisadores usaram as três amostras para regar vasos com flores da espécie Dahlia pinnata, muito usada na decoração dos canteiros. As plantas foram cultivadas em solo do tipo latosolo vermelho-amarelo, típico do cerrado de Brasília. Para medir o nível de microorganismos do solo, os pesquisadores usaram um microcalorímetro, aparelho que mede a quantidade de calor produzida pelos micróbios, e técnicas de contagem por microscópio. O especialista explica que o teste é importante, pois um aumento excessivo de microorganismos poderia alterar a fertilidade do solo e até causar desertificação.
Os resultados apontaram que duas das amostras testadas não acarretam danos ao solo e poderiam ser usadas para a irrigação sem prejuízo para o meio ambiente. “Nos dois casos, correspondente às duas últimas fases do tratamento, não houve alteração no nível de microorganismos no solo”, afirma Alexandre.
Os resultados da pesquisa, colhidos ao longo de um ano, motivaram a redação de um artigo científico. O texto foi aprovado para publicação na revista internacional Journal of Thermal Analysis and Calorimetry. Assinam o artigo os professores Alexandre Prado e Jurandir Souza, do Instituto de Química, Marco Antônio Souza, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, e Cláudio Airoldi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A pesquisa faz parte de um projeto maior, que aborda outros aspectos do uso da água de esgoto tratada. “Abordamos também a influência nas águas subterrâneas, no solo e na saúde das pessoas”, explica o professor Marco Antônio Souza, coordenador do projeto. Segundo ele, as pesquisas realizadas na área apontam ainda os benefícios do reuso da água para a fertilidade do solo. “A água de esgoto tratada funciona como adubo, por causa da elevada quantidade de nutrientes”, explica.
Segundo informações do Departamento de Parques e Jardins (DPJ) da Novacap, não existe nenhum projeto para o reaproveitamento da água de esgoto tratada na irrigação de canteiros. A companhia retira a água de córrego que passa por viveiro do DPJ. O transporte é feito por um caminhão pipa.

EXPERIÊNCIAS – O uso de água de esgoto para irrigação já é adotado com sucesso em alguns países do mundo. “Países com escassez de água, como Grécia e Israel, não usam água potável para qualquer coisa’, afirma Alexandre. “Eles precisam manter uma quantidade essencial de água potável e por isso adotam alternativas para reuso da água”.

O especialista conta que, apesar da seca em Brasília não alcançar graus alarmantes, evitar o desperdício de água é importante para que a cidade esteja preparada para cenários futuros. “Com o aquecimento global e a diminuição de fontes de água de qualidade no mundo, esse estudo vem como uma opção para manter as águas de qualidade no DF”, conta Alexandre. “O objetivo do trabalho é justamente comprovar que é possível irrigar os canteiros sem usar água de qualidade. Assim mantemos os estoques pensando tanto no hoje e quanto no futuro do planeta”.

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Textos: UnB Agência. Fotos: nome do fotógrafo/UnB Agência.